sexta-feira, outubro 30

O que nos une...

É no bico desta caneta que te adivinho, que revisto com a ponta dos dedos os campos vazios de um corpo por delinear, arranco sombras traço contornos faço o tempo esperar por ti adiando o próximo segundo com a própria respiração. Prego as mãos no peito, agito a minha alma à procura da tua, seguro com a delicadeza e com a força de quem segura uma porcelana fina e delicada. Diante de ti sou mulher com sentimentos concretizados, a tua imaginação deu-me corpo e cobriu a minha alma de vida, pudeste-me tocar antes mesmo de te ver, pudeste-me sentir mesmo antes de a ti chegar.
Neste universo, onde os sentidos subjugam o corpo, onde o vazio está perfeitamente cheio de nós, as palavras são ecos que apenas comprovam o que sinto por ti.
É como elos de uma corrente que a ti me liga, é como um segredo que deposito nos ramos da eternidade. Por entre todo este espaço imenso os sinais, as imagens, as palavras são feitos de pedaços meus e teus, que marcam e reconhecem sem erros, o verdadeiro sentimento que nos une.

quarta-feira, outubro 21

Tão perto...


Esta gota infinita onde condenso todos os momentos de várias vidas.
Nestes momentos em que me fecho sobre a minha alma.



Mesmo não estando a teu lado vejo-te todas as noites, retrato cada imagem tua, cada instante nosso. Risco sobre esta folha os traços que decorei de ti, adapto a cada palavra partes do teu corpo que tanto desejo. Nesta folha de papel que é o meu mundo, crio cada aresta da tua imagem uso as cores da tua pele e o perfume do teu corpo. Aponto as formas simétricas da tua alma que conheço desde que te vi pela primeira vez. Nos espaços das palavras impõe-se o sentir com que te escrevo, é como uma borboleta que ganha asas, invadindo o firmamento do céu pela primeira vez. Neste lugar nosso mágico, onde a noite e o dia se baralham num pôr-do-sol eterno, deixo cair do meu olhar uma lágrima de saudade, uma gota dessa tão ansiada eternidade que carrega dentro o sal da vida e o aroma da tua alma. Adormeço a cada noite com o melhor de ti, acordo de cada sonho com o rosto ainda dormente, carrego-te em cada amanhecer com as marcas dos teus lábios, nos meus.
Sabes, estarás comigo em todas as noites da eternidade dos tempos e descobrirei que em cada raiar de um novo dia, continuarás aqui tão perto… tão perto de mim.

quarta-feira, outubro 7

Instantes de solidão...

Olho para o horizonte na expectativa de encontrar o limite entre a terra e o céu, quero espalhar pelo universo a minha solidão, a minha vontade de ficar só. No limiar deste momento, quero deixar para trás tudo o que alcancei, olho o futuro sem ver o que vem, vivo apenas o conforto deste momento em que me deixo compreender pelo silêncio. Devoro todos os sons que o futuro me quer trazer, sofro com o toque da brisa fria deste ar que me acaricia a face, deixo que o silêncio me consuma na solidão deste instante, em que o dia adormece nos braços da minha noite.
Desisto, deixando que os pensamentos escapem para esse universo que à minha frente se prolonga. Acredito, libertar-me deste corpo velho e usado que não me pertence, quero ganhar novas asas, voar de novo, numa liberdade há muito subjugada. Sentada espero que a noite me agarre num alongado instante de solidão.