quarta-feira, junho 16

sentidos cortados...

Ofereço aos braços da noite o meu corpo cansado. É aqui que finalmente solto a alma de borboleta selvagem, na escuridão que me rodeia. Na companhia das estrelas, voo pelos campos adormecidos e orvalhados, sentindo a cada bater de asas, o cintilar das gotículas de água que cedem à minha passagem. Voo, em direcção a lado nenhum, numa ansiedade de libertar a dor que me apaga por dentro. Desejo encontrar, neste voo apertado, a alma perdida num leito qualquer. Compreendo, o vazio da minha própria ausência, porque sinto-o cortar-me os sentidos. A noite, longa, negra e fria não consegue incluir em mim a força que me sai da alma. Finjo perder-me, até encontrar aquele dia que amanheço em mim e me trago de volta a este corpo vazio.

10 comentários:

Lúcia Machado disse...

li este texto de Bruno Nogueira há uns anos atrás... e agora procurei...procurei e procurei...encontrei!

Acho pe se enquadra aqui...como já se enquadrou em mim...um dia tudo passa :-)

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Dói"s"-me


Dói-me. Dói-me muito. E não sei onde. Dói-me quando olho para ti, quando te vejo já ao longe, de cigarro encarcerado entre os teus dedos tão monstruosamente pequeninos. Dói-me saber que só te volto a ver quando já for tarde, e quando a dor se cansar de tanto me cansar. Tenho as mãos suadas e o coração a transpirar de tanto dar voltas e revira-voltas.
Dava tudo para saber estancar o palmo e meio de rasgo que me fazes na carne, não para o fazer, mas só para saber como actuar em caso de extrema urgência, que de urgência já eu vivo.
Dói-me muito, mas não sei onde. Se agora mesmo entrasse nas portas cansadas de um qualquer hospital, ficaria dia e meio para explicar onde e o que me dói. E ainda assim, dia e meio depois, estaria exactamente no mesmo ponto da conversa. Estaria de frente para uma bata branca, curvado de dores, de soro a violar-me o braço e o sangue, e de coração semi-risonho, como uma criança que faz das suas e olha para o lado para que ninguém a veja. "Juro que me dói senhor doutor, juro-lhe." De que vale explicar uma dor a quem nunca a sentiu?
A dor que me causas passa os limites de cinco países juntos.
Apetece-me beber-te a conta-gotas.
Dói-me. Dói-me muito. E quando me disseres onde, vai doer-me muito mais.

(Bruno Nogueira)

Fatima disse...

Doces e sensíveis palavras... Se estas se enquadram? Acredita, na perfeição... uma boa semana para ti, Lúcia.
Parabéns ao Bruno Nogueira pela elaboração fantástica deste sofrido, mas belo texto.

Beijos meus,
Fatima

Secreta disse...

Fingimos o impensável, por vezes. Apenas para transformar a nossa vida em algo mais suportável.
Beijito.

Fatima disse...

Que o suportável seja o acreditar de algo existente, de algo que ainda vale a pena, que torna a vida única, e que faz todos os dias serem diferentes. Obrigada pela tua visita, é sempre bom ter-te por cá.

Bjo
Fatima

Lúcia Machado disse...

...acredita...um dia quando menos esperares...o Sol voltará a nascer e tudo será ainda mais belo e doce... :-)não desistas nunca...boa semana para ti também :-)

DarkViolet disse...

as borboletas tem um brilho muito especial. Pareces saber soltar onde deseja estar. todo o percurso é feito para ser saboreado

Fatima disse...

Lúcia:
Não estou magoada com a solidão, nem me faltam momentos felizes, apenas estou a passar uma fase difícil da minha vida, que requer uma enorme mudança. Sabes costumo dizer-me "há sempre uma luz". Obrigada pelas palavras que me deixaste.

Bjo meu
Fatima

DarkViolet:
Agradeço a tua visita e as tuas doces palavras.

Bjo
Fatima

~*Rebeca*~ disse...

Fatima,

Fase difícil que fez um lindo texto.

Nem nessa hora a sua sensibilidade sai de perto.

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Chegamos de viagem e venho aqui só pra dizer que esse carinho danado de bom é realmente algo que faz falta.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

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Fatima disse...

Rebeca:
Como souberam bem estas palavras que me deixas-te... quanto à sensibilidade das minhas palavras, sinto-me lisonjeada. Obrigado.

Bjo
Fatima

~*Rebeca*~ disse...

Fatima,

Lá só não foi melhor porque houve muita chuva. Vários desabrigados, tive tanto medo, mas ainda bem que na hora de pegar estrada pra ir embora, o sol já estava reinando.

Beijo bem grandão, menina linda.

Rebeca

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